A quinta geração de internet móvel, 5G, que entrou em operação recentemente em algumas cidades do Reino Unido, tem gerado diversos questionamentos sobre eventuais riscos da radiação à saúde.
A nova tecnologia — que funciona desde abril na Coreia do Sul e em algumas partes dos Estados Unidos — ainda está em fase de testes no Brasil, onde deve estar disponível por volta de 2023.
Mas será que essas preocupações em relação à saúde têm fundamento?
Assim como as tecnologias móveis anteriores, as redes 5G dependem de sinais transportados por ondas de rádio — parte do espectro eletromagnético — transmitidas entre uma antena e o seu telefone celular.
Estamos cercados o tempo todo de radiação eletromagnética — provenientes de sinais de rádio e televisão, assim como de uma série de tecnologias, incluindo smartphones, e de fontes naturais, como a luz solar.
Cerimônia de lançamento do serviço 5G da SK Telecom, maior operadora de telefonia móvel da Coreia — Foto: Kim Hong-Ji/Reuters
O 5G usa ondas de frequência mais altas do que as redes móveis anteriores, permitindo que mais dispositivos tenham acesso à internet ao mesmo tempo e numa velocidade mais rápida.
Essas ondas percorrem distâncias mais curtas pelos espaços urbanos, de modo que as redes 5G exigem mais antenas transmissoras do que as tecnologias anteriores, posicionadas mais perto do nível do solo.
A radiação eletromagnética usada por todas as tecnologias de telefonia móvel levou algumas pessoas a se preocuparem com o eventual aumento dos riscos à saúde, incluindo certos tipos de câncer.
Em 2014, a Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmou que “não foi constatado nenhum efeito adverso à saúde causado pelo uso de telefones celulares”.
No entanto, a OMS junto à Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC, na sigla em inglês) classificaram toda radiação de radiofrequência (da qual os sinais de celular fazem parte) como “possivelmente cancerígena”.
Ela foi inserida nesta categoria porque “há evidências que não chegam a ser conclusivas de que a exposição pode causar câncer em seres humanos”.
Comer legumes em conserva e usar talco em pó, por exemplo, é classificado com o mesmo nível de risco. Já a ingestão de bebidas alcoólicas e o consumo de carnes processadas é colocado numa categoria de risco maior.
Um relatório de toxicologia divulgado em 2018 pelo Departamento de Saúde dos EUA, citado por aqueles que têm receio em relação à nova tecnologia, mostrou que ratos machos expostos a altas doses de radiação de radiofrequência desenvolveram um tipo de tumor cancerígeno no coração.
Para este estudo, o corpo dos ratos foi exposto à radiação de telefones celulares durante nove horas por dia todos os dias durante dois anos, mesmo antes de nascerem.
Não foi identificada nenhuma associação com o câncer no caso das fêmeas ou camundongos analisados. E foi constatado, inclusive, que os ratos expostos à radiação viveram mais tempo que os do grupo controle.
Um cientista que participou da pesquisa afirmou que “a exposição usada nos estudos não pode ser comparada diretamente à exposição que os seres humanos são submetidos quando usam telefone celular”, mesmo em relação a quem usa muito.
Frank De Vocht, que oferece consultoria ao governo sobre segurança de telefonia celular, diz que “embora algumas pesquisas sugiram uma possibilidade estatística de aumentar os riscos de câncer para quem usa muito [celular] até agora a evidência de uma relação causal não é suficientemente convincente para sugerir a necessidade de uma ação preventiva”.
Há, no entanto, um grupo de médicos e cientistas que escreveram para a União Europeia pedindo a suspensão do lançamento da rede 5G.
A banda de onda de rádio — usada em redes de telefonia celular — não é ionizante, “o que significa que não tem energia suficiente para separar o DNA e causar danos celulares”, afirma o pesquisador David Robert Grimes, especializado em câncer.
Nos níveis mais altos do espectro eletromagnético — ou seja, muito acima das frequências usadas pelos telefones celulares — há riscos claros de exposição prolongada à saúde.
Os raios ultravioletas do Sol se enquadram nessa categoria prejudicial à saúde e podem levar, por exemplo, ao câncer de pele.
Há limites rigorosos para exposição a níveis de radiação de energia ainda mais altos – como os exames de raios-X e raios gama -, que podem provocar efeitos nocivos no corpo humano.
“As pessoas estão compreensivelmente preocupadas com a possibilidade de elevar o risco de câncer, mas é crucial observar que as ondas de rádio são muito menos fortes do que a luz a que estamos expostos todos os dias”, diz Grimes.
“Não há evidência confiável”, diz ele, “de que os telefones celulares ou redes sem fio causem problemas de saúde.”
A tecnologia 5G exige uma série de estações-base novas — ou seja, de antenas que transmitem e recebem sinais de telefones celulares.
Mas, uma vez que sejam instalados mais transmissores, essencialmente, cada um pode operar com níveis de energia mais baixos do que a tecnologia 4G, o que significa que o nível de exposição à radiação das antenas de 5G será menor.
As diretrizes do governo do Reino Unido sobre as estações-base de telefonia móvel preveem que os campos de radiofrequência em locais normalmente acessíveis ao público são bem inferiores aos níveis recomendados.
Parte do espectro 5G permitido pelas diretrizes internacionais está dentro da faixa de micro-ondas.
As micro-ondas geram calor nos objetos pelos quais passam.
No entanto, nos níveis utilizados pelo 5G (e tecnologias móveis anteriores), os efeitos do aquecimento não são prejudiciais, explica o professor Rodney Croft, consultor da Comissão Internacional de Proteção contra Radiação Não Ionizante (ICNIRP, na sigla em inglês).
“O nível máximo de radiofrequência que alguém pode ser exposto pelo 5G (ou qualquer outro sinal em áreas comunitárias em geral) é tão pequeno que nenhum aumento de temperatura foi observado até agora.”
O governo do Reino Unido diz que “embora seja possível haver um pequeno aumento na exposição geral às ondas de rádio quando o 5G for introduzido à rede existente, a expectativa é que a exposição geral permaneça baixa”.
A faixa de frequência dos sinais 5G que serão introduzidos está dentro da banda não-ionizante do espectro eletromagnético e bem abaixo daqueles considerados prejudiciais pela ICNIRP.
“A exposição que o 5G vai gerar foi analisada em profundidade pela Comissão Internacional de Proteção contra Radiação Não Ionizante, e as restrições foram estabelecidas bem abaixo do menor nível de radiofrequência relacionada ao 5G que demonstrou ser nociva”, destaca Croft.
A Organização Mundial da Saúde afirma que a exposição a frequências eletromagnéticas abaixo dos limites recomendados pelas diretrizes da comissão não parece ter nenhuma consequência conhecida sobre a saúde.
Infográfico explica o que é o 5G — Foto: Fernanda Garrafiel/G1